Mototurismo: Volta ao mundo em 800 dias

Francisco Sande e Castro saiu de Portugal em Setembro de 2012 com o destino bem traçado, percorrer 80.000 km em dois anos. Sete anos depois, recebemo-lo de volta, na sede do ACP, bem no coração de Lisboa, e com mais de 140.000 quilómetros acumulados na sua Honda Crosstourer!

Volta ao mundo em 800 dias

Texto Domingos Janeiro. Fotos Francisco Sande e Castro.

Tudo começou em 2012, quando Francisco Sande e Castro achou que estava na altura de pôr em prática uma ideia que vagueava pela sua mente há já alguns anos, dar uma volta ao mundo de moto, por um percurso bem definido na sua mente e que o levaria a percorrer mais de 80.000 km ao longo de pouco mais de dois anos na estrada. A Honda Portugal foi acolheu a ideia de imediato, conjugando assim o facto de nesse ano ter sido lançada a Honda Crosstourer 1200, um dos modelos ideais, na altura, para este tipo de desafio. A aventura terminou no passado dia 8 de Maio na sede do ACP, no coração de Lisboa, depois de sete anos e mais de 140.000 km percorridos.

Volta ao mundo em 800 dias

Objectivos ajustados

Aquando da apresentação desta aventura em finais de Setembro de 2012, a ideia era simples: percorrer 80.000 km em pouco mais de dois anos. Mas na verdade e, devido a uma série de contratempos inesperados, como trabalho, Sande e Castro reviu as ambições e prazos, optando por viajar quatro meses por ano, ao longo de sete anos e atravessar 62 países. Nesse ajuste de objectivos, a viagem ganhou quase o dobro da quilometragem em relação ao inicialmente previsto, tendo terminado em Lisboa com o conta-quilómetros da sua Honda a marcar mais de 140.000 km.

No início, o que estava previsto era partir para o Oriente, a caminho da India e acabar nos Estados Unidos da América, na Flórida. Uma vez nos EUA, decidiu que a viagem não podia ficar por aqui Já tinham passado cinco anos desde o início desta aventura e a opção foi continuar, descer toda a América, pela América Central, América do Sul e África.

Francisco Sande e Castro

A moto

Como já referimos no início do texto, a moto escolhida foi a Honda Crosstourer 1200, que era uma das grandes novidades no segmento trail/aventura em 2012, pelo que a Honda nem hesitou em ceder uma unidade para esta aventura. A aposta revelou-se certeira, já que ao longo destes milhares de quilómetros, a Crosstourer apenas fez as revisões básicas como mudar óleo, filtros e pneus, não tendo apresentado qualquer outro problema mecânico, à excepção das suspensões, que acabaram por ceder devido aos caminhos degradados em muitos países menos desenvolvidos, em conjugação com o peso elevado da moto.

Volta ao mundo em 800 diasA viagem

Um episódio fascinante que marcou de forma indelével a vida do ex-piloto de automóveis, não pelos lugares que viu, mas, principalmente pelas pessoas e culturas que foi conhecendo ao longo da viagem. A vantagem de viajar de moto é que se consegue chegar a locais não tão massificados pelo turismo, dando assim a oportunidade de ter um contacto mais genuíno com as populações locais. “Tive experiências pessoais extraordinárias, em países que não estava à espera. Fui sempre acolhido de forma fantástica e, ao contrário do que nos chega todos os dias pelas notícias, o mundo afinal não é uma desgraça e 99% das pessoas pelo mundo fora são óptimas e acolhem-nos muito bem nos sítios mais improváveis”, conta-nos o Francisco. “A miséria que encontramos na India ou em África faz-nos pensar que levamos a vida demasiado a sério e como as pessoas mais simples são as mais felizes”, remata Sande e Castro.

De um modo geral, a viagem correu muito bem, sem grandes sobressaltos, mas naturalmente que houve complicações, como por exemplo no Irão, onde o destemido conquistador lusitano decidiu tirar uma fotografia a uma central nuclear! Olhou à volta e não viu ninguém Mas estava a ser observado à distância! Resultado: foi detido para interrogatório, por suspeitas de espionagem! Por falar em momentos menos bons, para a história ficam também dois grandes acidentes que sofreu na India, mas felizmente sem consequência físicas ou mecânicas na moto. Mas nada bate a exigência física das pistas africanas, muitas vezes superadas graças à ajuda dos locais. Sande e Castro recorda a fronteira da Guiné Conakri com a Costa do Marfi m, onde não há estradas propriamente ditas e por onde andou pela selva ao longo de dois dias. Outro momento de alta tensão, foi vivido no Brasil, no Amazonas, onde esteve muito perto de ser assaltado por piratas!

Volta ao mundo em 800 diasHistórias e mais histórias

Ao longo de tantos milhares de quilómetros, as histórias acumulam- se e foram sendo escritas pelo próprio Francisco ao longo de todos estes anos no seu blog pessoal voltaaomundoemcrosstourer.blogspot.com. Quando questionado sobre qual o momento que mais o marcou, Francisco Sande e Castro detém-se por instantes a passar em retrospectiva cada metro cruzado de histórias, para nos contar esta em particular: “Uma vez fiquei em casa de uma família muito pobre no Irão. A casa só tinha uma divisão e a cozinha. Nessa divisão não havia nada senão tapetes. Durante o dia ficávamos ali sentados no chão à conversa, as refeições fazíamos também no chão e comíamos com as mãos, pois não havia talheres. À noite traziam almofadas e cobertores e dormíamos todos juntos no chão, na mesma sala.

Fiquei com eles dois ou três dias e numa dessas noites, começou a chover torrencialmente e eu ouvi a mãe dizer qualquer coisa ao filho, que naturalmente não percebi. Nessa noite, por volta das 04h00 da manhã, levantou-se para ir buscar um plástico para me tapar a moto, porque estava preocupada com a moto que estava a apanhar chuva. Achei aquilo extraordinário.”

Volta ao mundo em 800 dias

O mais e o menos

Quando questionado sobre os países que mais gostou, Sande e Castro não hesita em responder Butão, Japão, Austrália, Colômbia e Estados Unidos. No sentido oposto, África está no topo dos locais mais difíceis de ultrapassar como na passagem do Congo para o Gabão, com pistas de lama com mais de 200 km de extensão. Na Guiné Conakri deixou cair a moto para um buraco, no meio da selva, onde lhe valeram uns militares que patrulhavam a área. Atravessar a Nigéria também foram momentos de alguma tensão devido à falta de segurança que este país oferece. Mesmo com todas estas situações de maior tensão, Francisco Sande e Castro faz questão de deixar claro como a água que em momento algum pensou em desistir. Como já referimos anteriormente, esta aventura vai ser agora imortalizada em livro, distribuída por duas edições, com o título “Volta ao Mundo em 800 Dias”. A não perder!

Volta ao mundo em 800 diasPercurso

Portugal; Espanha; França; Itália; Eslovénia; Croácia; Bósnia; Albânia; Grécia; Turquia; Azerbaijão; Irão; Dubai; India; Nepal; Butão; Bangladesh; Birmânia; Laos; Camboja; Tailândia; Malásia; Indonésia; Timor; Austrália; Ilhas Fiji; Japão; Ilhas de Kyushu; Ilha Shikoku; Estados Unidos da América; México; Belize; Guatemala; Salvador; Nicarágua; Costa Rica; Panamá; Colômbia; Equador; Peru; Bolívia; Chile; Argentina; Uruguai; Brasil; África do Sul, Namíbia; Botsuana; Zâmbia; Zimbabué; Angola; Congo; Gabão; Camarões; Nigéria; Benim; Togo; Gana; Costa do Marfim; Guiné Conakri; Guiné Bissau; Gâmbia; Senegal; Mauritânia; Sara Ocidental; Marrocos; Espanha; Portugal.

Volta ao mundo em 800 diasFrancisco Sande e Castro

Volta ao mundo em 800 diasNOME: FRANCISCO SANDE E CASTRO
IDADE: 64 ANOS
NATURALIDADE: LISBOA, PORTUGAL
PROFISSÃO: EMPRESÁRIO; EX-PILOTO DE AUTOMÓVEIS; JORNALISTA

 

Para conhecer melhor Francisco Sande e Castro, visite o seu Blog voltaaomundoemcrosstourer.blogspot.com ou a sua página de Facebook.

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