Ride that Monkey – A ideia de André Sousa

Esta conversa com André Sousa foi publicada originalmente antes da pandemia, na edição nº 1475 de 31 de Janeiro da Motojornal, quando ainda estávamos longe de imaginar que esta aventura teria de ser adiada e alterada no seu plano original. Recordámos aqui essa entrevista conduzida por Domingos Janeiro.

Texto Domingos Janeiro • Fotos Bruno Ribeiro E André Sousa

Macacos me Mordam!

Já lá vão dois anos e uns meses, desde que recebemos, na redacção da MOTOJORNAL, um e-mail do André, que dava conta da sua intenção de se tornar no primeiro português a dar a volta completa à América do Sul de moto e o primeiro motociclista a dar a volta à América do Sul numa 125 cc. Desde o primeiro momento que achámos que o desafio tinha tudo para ser um sucesso e assim foi!

Tornámos-nos parceiros do André Sousa e no final, publicámos a viagem nas edições 1445, 1446 e 1447. Uma viagem que, pela simplicidade e pelo estado de espírito do próprio André, se veio a verificar um autêntico sucesso. Mas eis se não quando ainda estava na “ressaca” dos 24 225 km, outra ideia lhe assalta o pensamento: porque não dar a volta ao mundo? Se bem o pensou, melhor o fez, ou para sermos mais correctos, vai fazer, com a data de partida agendada para o próximo dia 29 de Março, de Avis!

A ideia é dar a volta ao mundo, 360º, em pouco mais de dois anos, sem regressar a Portugal antes de terminar a viagem, percorrendo mais de 60 000 km e com passagem por mais de 50 países. Bem, se até aqui a ideia já começava a ganhar alguns contornos de loucura, agora chega a parte melhor e que de facto confirma, que é mesmo uma loucura: a moto eleita é a pequena Honda Monkey 125!

A PARTIDA ESTEVE INICIALMENTE PREVISTA PARA O PASSADO DIA 29 DE MARÇO, EM AVIS. TODAVIA, DEVIDO À SITUAÇÃO PANDÉMICA CAUSADA PELO COVID-19, ANDRÉ SOUSA TEVE DE REAJUSTAR O CALENDÁRIO E O TRAJECTO DESTA AVENTURA. AGORA, A NOVA DATA DE PARTIDA SERÁ NO PRÓXIMO DIA 12 DE JULHO.

A ideia

Mais do que uma viagem, é um projecto de vida. Um projecto de vida que este jovem de 24 anos, natural de Oliveira de Azeméis, recém mestrado em Gestão Empresarial reconhece que se não for posto em prática agora, ficará para sempre na gaveta, uma vez que tudo se complica quando começar a trabalhar. Ride That Monkey é o nome “de código” e o objectivo é dar a volta ao mundo aos comandos de uma mini moto, neste caso, aos comandos da nova Honda Monkey 125 cc, sucessora da mítica moto que começou a fazer história nos anos ‘70.

Regressar a casa? Só quando terminar a volta ao mundo e passar no maior número possível de continentes. Alguns continentes, como a Antártida é impossível conseguir visitar. “O tempo de duração da viagem está previsto para dois anos, numa perspectiva de que tudo corra bem, num cenário ideal, mas num cenário realista, será mais tempo, pois temos que contar com imprevistos e até possíveis avarias. Tenho previsto visitar cerca de 50 países”, confidencia-nos o André, com a descontracção típica de quem vai ali ao café…

Orçamento e partida

Neste momento, o aventureiro conta com apenas 15% do orçamento necessário para fazer uma viagem de baixo custo, sem dormidas incluídas, mas nem isso abala a determinação do “cristas” como era conhecido no meio desportivo! A data de partida é no próximo dia 29 de Março de Avis em direcção a África, Dakar, mas depois, há que voltar a subir Marrocos “há conflitos que dificultam e tornam a passagem bastante perigosa. Há formas de tentar passar e arriscar, mas esse não é o objectivo desta viagem. Há que jogar pelo seguro. Por isso prefiro voltar a subir, entrar na Europa e ir em direção à Turquia, Irão, Paquistão, Ásia, Índia, Myanmar, Tailândia,

Laos, Camboja, Malásia e Singapura. Daí envio a moto para a Austrália e faço de Perth a Sydney. Sigo para a América do Sul, de passagem, porque já conheço da viagem anterior e à Venezuela só irei se as condições tiverem melhorado e tudo estiver mais calmo. Também não tenho planeado fazer o Guiana. Depois, da Colômbia apanho barco para o Panamá, porque não há ligação entre a América do Sul e a América Central. Há o Darien Gap que é uma zona de guerrilhas colombianas, uma floresta na qual nunca construíram uma estrada.”

Custos e vistos

Um dos problemas que o André vai ter que ultrapassar, são os custos astronómicos cada vez que tiver que “despachar” a Monkey de barco ou de avião, entre continentes. Será um custo de no mínimo 2000€! A viagem prossegue depois pela América Central, México, Estados Unidos, Route 66 (que será apenas feita metade), Nova Orleães, a costa até Nova Iorque, Canadá e regresso à Europa para completar os países que faltarem. No que toca a vistos, terão que ser tratados durante a viagem. Com excepção para a India, onde o visto tem duração para um ano, o do Irão e Paquistão só dão três meses de validade. Esta será a zona mais difícil para conseguir os vistos, porque o resto há uma certa facilidade para os portugueses, explica-nos o André.

Ainda que a moto tenha grande fama de fiabilidade, as condições a enfrentar serão extremas, onde a velocidade média esperada rondará os 50/55 km/h, máximo 60 km/h a rolar em recta ou plano, caindo para os 40 km/h a subir, com a moto carregada! Mas aventura é aventura, e com um sorriso rasgado nos lábios acrescenta “não sei onde vou dormir, não sei onde vou parar, quanto tempo irei ficar em cada sítio, é sempre na base do instinto e esperar a ajuda dos motociclistas porque em termos financeiros não tenho capacidade para suportar uma viagem normal.” “Só tenho 15% do orçamento e o objectivo é seguir em frente com a viagem. Quando me proponho a fazer algo, cumpro. Por isso, quer tenha mais dinheiro ou menos, vou mesmo arrancar com a viagem. Não há volta a dar.

Arranco a 29 de Março [ndr: a nova data será a 12 de julho] e tentar fazer alguns eventos com os clubes dos motociclistas dos países que vou visitar para conseguir angariar fundos para prosseguir com a viagem. Vou ter também merchandising à venda no site para me ajudar a recolher fundos. Vou ter que trabalhar em alguns países, sempre na perspectiva de quando tiver dinheiro suficiente arrancar para o próximo país. Tentar ganhar aqui, para continuar mais um pouco. Com o orçamento que tenho disponível agora, dá-me para ir à África e entrar na Ásia. O problema será na saída da Ásia onde começam os transportes intercontinentais e os tais milhares de euros necessários para pagar as passagens. Isso é que me vai complicar as contas! Vai ter de ser com a ajuda das pessoas e estou a pensar criar um “crowdfunding”.

O meu sonho é tão grande que tenho que conseguir. É a minha vida, é o meu sonho. Não é a falta de dinheiro que me vai fazer deitar por terra este sonho. Vai ser a minha vida, a vida que eu escolhi para os próximos dois anos. Estou plenamente convicto de que com a ajuda das pessoas, vai valer a pena e vai correr tudo bem”, acrescenta o ex-piloto.

Assentar? Só quando chegar…

“Quando acabar a viagem quero procurar emprego e passar a ter uma vida normal. Em Julho de 2019 terminei o mestrado em Gestão Empresarial. Acho que é o momento certo para fazer esta aventura, antes de arranjar emprego. A partir do momento que arranje emprego, já não terei hipótese de fazer esta tipo de viagem. Tenho 24 anos, sou muito novo e tenho tempo para ter uma vida normal. Quando chegar da viagem vou ter tempo para pensar em tudo isso.

A própria viagem vai-me criar muitas oportunidades, certamente. Viajo sozinho, sem nenhum apoio. Gosto de conhecer pessoas novas. É o que mais gosto é ganhar um amigo em cada sitio e isso só é possível quando sozinho. Este gosto pelas viagens vem desde miúdo, porque sempre viajei muito com a minha família e sempre prezamos muito o conhecimento que vem das viagens.

Quando fiz 18 anos comecei a fazer “erasmus”, viajar à boleia pela Europa com amigos, a dormir em casa das pessoas, a viajar com o mínimo de dinheiro possível e criei a paixão. Depois fui estudar para o Brasil e aí decidi fazer a viagem de 125 cc pela a América do Sul, que durou 120 dias e 24 225 km, com uma Honda CG 125. Visitei todos os países com ligação por via terrestre e regressei ao Brasil. Escolhi esta moto pelo desafio, pois ninguém tem conhecimento de alguém que tenha dado a volta ao mundo numa Honda Monkey. Quero testar os meus limites e, acima de tudo, quero conseguir! Tenho que conseguir! O maior desafio é olhar para a moto e ficar na expectativa de se vou conseguir concretizar o sonho ou não. Estou confiante que sim, claro”, remata André Sousa!

Caso pretendam dar o vosso contributo para o projecto Ride That Monkey, podem contactar o André directamente na página de Instagram: @ride_that_monkey.

PARA ACOMPANHAR A VIAGEM

Instagram: @ride_that_monkey

Facebook: Ride That Monkey

Web: www.ridethatmonkey.com

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Ride That Monkey: arranque a 12 de Julho