Em 2010 a Ducati apresentava em Milão a primeira geração da sua linha Diavel, uma cruiser que prometia mudar a percepção que o mundo tinha de uma cruiser. Foi criada uma power cruiser que, além de muito motor e prestações, conseguia fazer alguns floreados em estradas sinuosas de montanha. Em 2015 é lançada a segunda geração deste modelo com o motor Testastretta V2 de 1262 cc e ciclística melhorada, que tornou a moto ainda mais eficiente. Este ano o modelo sofre uma revolução ao receber o motor V4 Granturismo e com todo um novo comportamento, onde a ciclística baseada no quadro monocoque em alumínio tem particular importância. Fomos aos Emirado Árabe Unidos, mais precisamente à montanha de Jebel Hafeet, para a conhecer e fomos surpreendidos por uma moto que cria uma nova definição do que é uma Power Cruiser. Mas a primeira surpresa foi a estrada, uma troço de montanha com cerca de 10 km e 60 curvas, com um piso que faz inveja a muitos circuitos e um traçado empolgante. Tivemos este percurso à nossa total disposição, cortado ao trânsito, para usarmos como se numa pista fechada estivéssemos. Foi um dia bem passado.
Poder e contenção
O motor V4 Granturismo da Ducati continua a ser sempre uma agradável surpresa, e instalado na Diavel não é diferente. Aqui apresenta-se com 168 cv e uma curva de entrega de potência muito consistente e cheia ao longo de todos os regimes. É um motor que a baixa rotações, mesmo quando desliga os dois cilindros traseiros, apresenta um funcionamento muito suave. O som fica diferente, mais próximo do que a anterior Diavel (V2) tinha, e desta forma reduz o consumo, emissões poluentes e calor na zona traseira do motor, mais junto do condutor. Assim procura oferecer maior conforto quando se anda a baixa velocidade em ritmo de passeio. A activação dos cilindros traseiros quando se acelera desde baixa velocidade é quase imperceptível, nota-se claramente a mudança do tom de escape de um ruído mais compassado para o típico troar do V4 “Twinpulse”. A forma como empurra é um misto de vigor, violência e, ao mesmo tempo, contenção, uma capacidade que se torna estranha de aceitar, tal o refinamento que a entrega de potência tem. É um motor capaz de ser suave e equilibrado quando queremos rodar tranquilamente como se transforma numa unidade capaz de empurrar de forma possessa no segundo seguinte, se rodarmos o punho a fundo. É de facto um motor capaz de várias personalidades e formas de estar, tem uma capacidade de mutação impressionante e assente bem em qualquer uma das peles que lhe queiramos vestir. Embora não tenha a potência da versão desportiva desta unidade, usada nas Panigale e Streetfihghter, a verdade é que, para um uso em estrada, a sua capacidade de fazer rotação impressiona. Empurra até ao limitador sempre com muito alma.
Personalidades distintas, a mesma acessibilidade
Esta Diavel como todas as motos das Ducati desta geração de motores V4, tem a possibilidade de ter diferentes mapas para o motor. Neste caso existem 4 distintos, Wet, Urban, Touring e Sport. Usamos os três últimos para perceber como iam e a verdade é que são todos muito fáceis de controlar. Quando utilizamos o Urban, nota-se claramente a maior suavidade com que as borboletas da injecção abrem, mas não se sente que haja atraso na acção. No modo Touring podemos fazer quase tudo, mesmo condução bastante animada. A resposta é pronta e cheia QB desde os primeiros momentos de rotação do punho, dando-nos tudo se rodarmos a mão direita a fundo. O modo Sport amplifica tudo isto, embora continue a ser muito fácil de controlar. A cada grau de rotação o crescendo de potência a aceleração é muito mais intenso e dependendo do nível de acção estiverem as ajudas, as reações de motos podem acompanhar este crescer de emoções. Para cada modo podemos definir diferentes níveis de intervenção do Wheelie Control, Traction Control, ABS e potência do motor.
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É um motor do qual se pode dizer ser isento de vibração, contudo é muito equilibrado e o pouco que se sente, faz parte do necessário para que sintamos que temos um objecto vivo debaixo de nós e com uma alma pronta para nos servir. Nunca se torna incomodativo.
A caixa de velocidades é de uma finura de funcionamento que chega a ser desconcertante. Com quickshift, a sua actuação e muito suave a cada pressão do nosso pé, mas à sempre um tacto mecânico no movimento que nos garante que a relação escolhida ficou engrenada. E isto passa-se quer se esteja a fazer passagens de caixa numa toada calma ou atacando o selector no ritmo frenético de um louco, como aconteceu nas últimas passagens que fizemos na estrada de Jebel Hafeet. A embraiagem é Suave de accionar, não cansa num ritmo urbano de baixa velocidade, muitas paragens e passagens de relação, e ao mesmo tempo é progressiva e fácil de dosear.
Estranhamente ágil
Longa como é, estabilidade não é um problema para esta moto. O que pode surpreender quem não conhece os pergaminhos da linhagem Diavel é a estabilidade que apresenta, mesmo quando abusamos delas. O seu longo braço oscilante garante uma brutal capacidade de tração, mas surpreende a forma neutra como reagem quando a aceleração forte é feita em curva, com muita inclinação. Nesta situação continua a ter um comportamento muito neutro, bem plantado que ajuda a empurrar a Diavel para a frente sem qualquer reação estranha. É no campo da agilidade onde a Diavel mais se destaca face ao que seria expectável. É importante ressalvar que a enorme medida do pneu traseiro se faz sentir em todos os momentos de uma curva, mas o seu comportamento é tão são e previsível que acaba por ser uma característica que adiciona prazer à condução. Dá um cunho muito especial que só se pode ter nesta moto. Frente e traseira têm velocidades de entrada em curva distintas. A frente é rápida, incisiva e precisa, enquanto que a traseira é mais pausada leva o seu tempo a acatar as ordens. Contudo cada mudança de direcção é feita de forma tão bem coordenada entre as duas, que chega a ser desconcertante como tudo funciona de forma tão perfeita. A traseira parecer querer elevar-se quando inclinamos para a curva posicionado-se mais alta, o que ajuda a empurrar a roda dianteira na direcção desejada. É um bailado estranho mas muito interessante de ser ver, sentir e desfrutar.
Com o tipo de piso quase perfeito que encontramos nesta estrada de Jebel Hafeet, é difícil avaliar o conforto que estas possam proporcionar. No que respeita ao controlo dos movimentos da moto em condução agressiva, são muito compostas, garantindo um tacto muito bom, boa aderência dos respectivos pneus, dando-nos a confiança para abusar dos seus limites, quer em travagem e introdução em curva, como em aceleração à saída delas.
A capacidade de travagem da Diavel é quase absurda, tendo em conta o tamanho e estilo da moto. O travões dianteiro têm potencia de sobra, mas acima de tudo destaca-se a facilidade com que é possível doseá-los.
Mais conforto
A Diavel mudou ligeiramente a posição de condução face ao modelo anterior. O guiador recuou 20 mm para mais perto do condutor e a zona do assento ganhou também 20 mm de espaço. É uma posição relativamente natural, com as costas ligeiramente inclinada sobre a frente e os pés altos face ao assento. Ainda que ligeiramente avançados, ficando quase na direcção vertical do joelhos com estes a fazer perto de 90 graus de curvatura, a posição das pernas é bem diferente de uma cruiser convencional, que coloca o pés mais para a frente, situação que nos agrada, já que facilita a nossa movimentação em cima da moto se nos animamos na condução. É que a rodar mais depressa, em níveis de inclinação mais extremos os pousa-pés tendem a tocar nos chão. É necessário inclinar bastante e este tocar é suave, mas se tirarmos um pouco do corpo para fora, como faríamos numa desportiva, ganhamos liberdade para inclinar um pouco mais e ganhar ainda mais velocidade em curva. É que a Diavel V4 pode ser conduzida como se uma desportiva fosse.
Como seria de esperar numa cruiser naked, protecção é praticamente nula e a posição dos braços aberto e altos ainda ajuda menos. Numa moto em que facilmente ultrapassamos os 200 km/h, será importante pensar numa solução caso queiram rodar muito tempo a estas velocidades, que nós podemos experienciar numa estrada fechada ao público.
O assento é uma agradável surpresa em vários aspectos. Primeiro começa por nos garantir um amplo espaço para nos podermos colocar mais à frente ou atrás na moto, por outro o seu desenho e junção com o depósito facilita muito as mudanças de posição de um lado para o outro em mudanças de trajectória. Sabemos que a Diavel é uma cruiser é o seus clientes não procuram isso, mas é muito divertido pilotar esta moto em montanha, como se estivéssemos aos comandos de uma Superbike.
Ajudas de competição
A electrónica da Diavel V4 é algo incontornável, já que é responsável por grande parte da facilidade de utilização da moto, da segurança que nos transmite e das prestações que oferece. Esta moto, tal como todas as V4 da marca italiana, está equipada com os sistema mais modernos de ajudas à condução, contando com sistema de controlo da elevação da roda dianteira, controlo de tracção e cornering ABS, além da possibilidade de definir a resposta do motor ao acelerador. Tal como o das Superbikes de competição. Todos eles são reguláveis no nível de intervenção com que atuam e podem mesmo ser desligados. Ao longo do dia de testes, fomos “aliviando” a intensidade, mas a primeira impressão que nos ficou foi que, mesmo definidos com um nível elevado de intervenção, a sua actuação é quase imperceptível. Acabámos o dia com o Controlo de tracção e ABS no nível mais baixo de intervenção e o Wheelie Control totalmente desligado. Com esta definição sentimos que a frente ganha uma “vida” e “leveza” diferentes, mas o controlo de tracção e ABS estão lá para apanhar algum abuso excessivo. A verdade é que numa saída de curva mais lenta a traseira soltou-se mais do que esperava, mas ou TC ou o meu punho resolveram a situação. A rodar mais mais rápido em terceira e quarta velocidades a roda de trás tende a soltar muito suavemente em acelerações fortes, apenas para nos dar noção da tracção a ser feita. E que nível de tracção impressionante é possível retirar deste largo 240. Esta cruiser V4 consegue ser quase tão rápida como as desportivas! Depois temos a facilidade de condução, a docilidade de funcionamento que Diavel V4 é capaz de apresentar se a tratarmos com o respeito que uma cruiser pede. Tudo é suave, de tacto preciso e o motor pode passar a ter uma atitude dócil se passamos para o modo Urban. Não iria ao ponto de dizer que é uma moto para iniciados, mas a verdade é que quase qualquer um a pode conduzir.
Ficha Técnica
Ducati Diavel V4 | |
PREÇO | 26.795 euros |
TIPO | tetracilíndrico em V, cambota contra-rotante, refrigeração líquida |
DISTRIBUIÇÃO | DOHC, 4 válvulas por cilindro |
DIÂMETRO X CURSO | 83 x 53,5 mm |
CILINDRADA | 1158 cc |
POTÊNCIA MÁXIMA | 168 cv / 10750 rpm |
BINÁRIO MÁXIMO | 126 Nm / 7500 rpm |
ALIMENTAÇÃO | corpos elípticos equivalentes a 46 mm, Ride by Wire |
ARRANQUE | eléctrico |
EMBRAIAGEM | multidisco, banho de óleo, sistema deslizante, comando hidráulico |
CAIXA | 6 velocidades |
FINAL | por corrente |
QUADRO | monocoque em alumínio |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha invertida 50 mm, 120 mm de curso, totalmente regulável |
SUSPENSÃO TRASEIRA | Monobraço em alumínio, amortecedor com 145 mm de curso, totalmente regulável |
TRAVÃO DIANTEIRO | 2 discos de 330 mm, pinças Brembo Stylema, radiais de 4 êmbolos com Cornering ABS EVO |
TRAVÃO TRASEIRO | disco de 265 mm, pinça de dois pistões, com Cornering ABS EVO |
PNEU DIANTEIRO | 120/70 – 17” |
PNEU TRASEIRO | 240/45 – 17” |
ALTURA DO ASSENTO | 790 mm |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1593 mm |
CAPACIDADE DO DEPÓSITO | 20 litros |
PESO | 211 kg (236 a cheio) |
GARANTIA | 3 anos |
IMPORTADOR | Ducati Ibérica |
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