Yamaha quer novas categorias “comerciais” para provas TT

A casa de Iwata pretende trabalhar com organizadores de diferentes provas de todo-o-terreno de forma a criarem categorias “comerciais” que permitam a utilização de motos vendidas nos concessionários.

Yamaha

Eric de Seynes, responsável máximo da Yamaha Motor Europa, é por estes dias um dos homens mais em foco no mundo do desporto e do todo-o-terreno em particular. Depois de criticar a introdução das novas regras no Mundial Supersport, Eric de Seynes volta a ser destaque, mas desta feita devido à decisão surpreendente e histórica da Yamaha em abandonar o Rali Dakar e o Campeonato do Mundo FIM Ralis Cross-Country.

No comunicado divulgado pela Yamaha para justificar o fim do projeto da Monster Energy Yamaha Rally Team, a casa de Iwata justifica essa decisão com a vontade de se manter ligada aos clientes que procuram motos preparadas para o TT e que podem adquirir facilmente nos concessionários.

A chegada da nova Ténéré 700 World Raid levou a Yamaha a adotar uma estratégia para disponibilizar uma maior ajuda aos clientes “off-road”. E esta é a estratégia que serve agora de ponto de partida para a Yamaha querer trabalhar na introdução de novas categorias “comerciais” em diversos eventos de ralis.

YamahaAproveitando a visibilidade das redes sociais, Eric de Seynes escreveu um longo texto para aprofundar um pouco mais as razões que levaram a Yamaha a abandonar o Dakar e o Cross-Country.

“Agora temos novos modelos que vendem dezenas de milhares de unidades e têm nos seus genes os valores do rally raid e da aventura. Motos como a Ténéré Rally e World Raid, por exemplo. Por isso tomámos a decisão de suspender a nossa aposta oficial nas motos no Dakar e colocar o nosso investimento em favor de novos programas que permitam envolver mais os nossos clientes da Ténéré e SSV. O espírito Maratona Ténéré está bastante vivo e deveria voltar a existir nos próximos anos (a nível oficial), em colaboração com os organizadores de ralis e bajas de certa importância”, escreve Eric de Seynes.

Depois de clarificar que a intenção da Yamaha é ajudar à criação de categorias “comerciais” que permitam a utilização de motos como a nova Ténéré 700 World Raid, por exemplo, criando uma maior ligação entre o lado comercial de aventura e o desporto, Eric de Seynes confirma que o fim do projeto desportivo no Rali Dakar e Campeonato do Mundo de Ralis Cross-Country está também profundamente ligado à falta de vontade da sede no Japão em investir no desenvolvimento de uma moto específica:

“A base da nossa moto (de raids) é a WR450F, que foi homologada em 2011. Infelizmente, esta base foi desenvolvida para a YZ450F que é uma verdadeira moto de motocross, feita para ganhar corridas de 40 minutos e não para participar em corridas de 8000 km e 5000 km feitos em contrarrelógio a toda a velocidade. Trabalhámos muito para que esta fosse uma moto de rali. Caixa de velocidades de 6 relações, suspensões específicas, alteração ao centro de gravidade, depósitos maiores e específicos, maior capacidade para o óleo de motor, todo o sistema de cablagem, etc. Mas a equação entre fiabilidade e prestações continua a ser muito pequena, e tivemos de reconhecer, no final do Dakar, que estávamos no final do desenvolvimento desta moto”, refere o dirigente francês.

YamahaReconhecendo que se torna impossível lutar de “igual para igual” com fabricantes como a KTM e a Honda, que apostam fortemente em projetos específicos para provas de rali e cross-country e equipadas com os motores de 450 cc, Eric de Seynes não esconde alguma deceção pela Yamaha Japão não apoiar o projeto, mas compreende a razão da falta de apoio:

“Desde há dois anos percebemos que se queremos subir de patamar em competitividade, precisamos de uma moto, mas sobretudo um motor adaptado a esta disciplina. Mas isto é impossível sem a intervenção do Japão, e isso não está nos planos deles porque o mercado dos rali-raids não interessa muito para além da Europa”, voltando assim a insistir na questão comercial de uma moto que seria apenas usada e vendida a pilotos.

YamahaOutro ponto que Eric de Seynes faz questão de realçar e que contribuiu para a decisão da Yamaha foi o facto do Rali Dakar continuar a disputar-se apenas na Arábia Saudita: “Para além disto tudo, há três anos posicionámo-nos ao dizer que nos parecia importante que, depois da saída da América do Sul, o Dakar ampliasse o seu terreno de jogo a outros países no Médio Oriente e que não fique confinado apenas à Arábia Saudita. Infelizmente, depois de três edições, isto continua igual e achamos que é uma pena”, conclui o diretor da Yamaha Motor Europa.

Se é verdade que provas do Campeonato do Mundo FIM de Ralis Cross-Country e, principalmente, o Rali Dakar, perdem a presença oficial da Yamaha, também não deixa de ser verdade que a Yamaha está a tentar criar condições para que o espírito do Dakar e da aventura não se perca, principalmente para o comum motociclista, que adquire uma moto no concessionário e depois dificilmente encontra condições ou provas onde possa participar.