25º Troféu Moto-ralis -Terceira etapa andou pela Serra da Estrela

A terceira etapa do 25º Troféu Moto-ralis andou pelas estradas em redor do maciço da Serra da Estrela no passado 25 e 26 de junho.

A mais recente ronda do 25º Troféu Moto-ralis promovido pela FMP- Federação de Motociclismo de Portugal ficou a cargo dos Motoclubes de Góis e da Covilhã, numa organização conjunta que culminou com um excelente passeio em redor do maciço serrano da Serra da Estrela e das duas típicas e centenárias aldeias de xisto.

As duas coletividades voltaram a repetir a excelente parceria do ano passado, montando uma organização a ‘meias’ – que pode e deve ser exemplar a nível nacional – invertendo agora o percurso da rota, começando este ano na Serra da Estrela para terminar perto de Góis.

Para esta edição de 2022 compareceram 80 participantes em 58 motos, vindos de vários motoclubes de norte a sul, desde Guimarães a Albufeira, naquela que foi a terceira jornada do 25º Troféu de Moto-ralis Turísticos BMW/Dunlop da FMP em redor da Serra da Estrela, depois de em Maio último o Troféu ter andado pela zona ribatejana da Chamusca.

De acordo com o relato da FMP, esta terceira ronda contou-se assim:

“Desta vez, o MC Covilhã-Lobos da Neve “ficou” com a 1ª etapa, no sábado, 25 de junho, e o Motoclube de Góis assumiu a etapa de domingo.

Cada um idealizou o percurso, perguntas, surpresas, visitas e controlos. Até o road-book (curiosamente ambos feitos por meninas) tinha grafismo e inspiração diferente.

Como cada vez mais a hotelaria marca o epicentro de um evento destes, os clubes viram-se na obrigação de passar a noite de sábado para domingo também na Covilhã, dificultando a viagem para Góis de um moto-rali que se queria em linha.

Mas conseguiram tornear muitíssimo bem a questão.

O sábado foi excepcional, pelo vale do Zêzere e essencialmente no concelho do Fundão que cada vez nos surpreende mais, com visitas diversificadas e riquíssimas!

Já o domingo, bem rolante por estradas sinuosas e sem trânsito, consolaram os motociclistas pelas bucólicas aldeias de xisto da Serra do Açor.

E o tempo, esse factor primordial para o sucesso de qualquer evento? 5 estrelas! Apesar de já estarmos no verão, foi primaveril e fresco, com temperaturas de encomenda. Aquilo que o 24º Portugal de Lés-a-Lés precisou, duas semanas antes, onde, apesar de decorrer na primavera, foi fustigado por temperaturas tórridas de verão.

É também um consolo ver estes dois motoclubes a trabalhar juntos. Quase que se fundem. Identificam-se bastante, inserindo-se bastante na sociedade e sendo uma mais valia para os seus concelhos e respectivas populações, com direcções e elementos imaginativos, esforçados e de excelente trato. Parabéns ao MC Covilhã-Lobos da Neve e Góis MC!

A hospitalidade de ambos é tal que na 6ª à noite já quase toda a caravana se sentava à mesa na Covilhã, com destaque para os 20 elementos do MC Albufeira!

E bem dispostos, no sábado de manhã, os motociclistas lá foram à descoberta para sul, ao longo do Zêzere, na direcção da Serra da Gardunha.

As Minas da Recheira abriram o dia de cerca de 150 km, com descida aos túneis escavados em tempos para extrair o volfrâmio, esse mineral que só funde a mais de 3000 graus e por isso tão útil para o armamento e que está a ser de novo procurado. Mas esta mina está diferente, vocacionada para o turismo, com suites (!), restaurante e adega nas suas profundezas, para além de dar a conhecer a sua história e da vida difícil dos mineiros. Para regressar com mais tempo!

A Casa dos Bombos, em Lavacolhos, pôs o moto-rali a bombar como nunca visto em 25 anos de troféu. Interessante e ensurdecedor!

A Casa das Tecedeiras ensinou-nos, na bonita e típica aldeia de Janeiro de Cima, a complicada e trabalhosa transformação do linho e como pode ser imaginativo o artesanato.

De toque mais feminino, foram elas que gostaram de experimentar o tear.

A Casa da Cereja, em Alcongosta, espantou-nos pela modernidade e eloquência com que nos ensina a origem e diversidade deste fruto pelo mundo todo e como se produz com qualidade acima da média nas encostas da Gardunha, entre castanheiros.

Isto foi tudo de enfiada? Não!

Pelo meio fomos chafurdar ao Zêzere, Junto à Roda de Janeiro, na Praia Fluvial de Janeiro de Cima. Para além do piquenique havia pranchas de paddle à espera dos mais equilibrados!

As águas já mornas do rio abriram o apetite e partimos desta peculiar aldeia de xisto ainda mais bem ‘compostinhos’.

E ainda houve tempo para batalha de água entre o pelourinho e antiga casa da câmara de Castelo Novo. A prova de bons vinhos e queijos da região foram aperitivo para recriações de far west, matrix e outros ataques à pistola… de água.

A etapa, memorável, terminou na Casa de Poesia de Eugénio de Andrade, poeta que nasceu batizado de José Fontinhas, em 1923, nesta aldeia de Póvoa de Atalaia.

Curiosa e divertida, a “caravana ecológica” do hotel ao restaurante, já na Covilhã, a pé, com os presidentes Nuno Bandeira e Rui Santos a encabeçarem o grupo e desfraldando orgulhosamente as bandeiras respectivas dos seus motoclubes de Góis e Covilhã.

O domingo, 26 de junho, começou mais cedo que o costume. Pelas 8.30h da manhã já os motores ronronavam pelas curvas deliciosas e despovoadas da N230 para Unhais da Serra. Isto sim, é um moto-rali turístico. E o festival curvilíneo continuou para Teixeira e Vide, detendo-se no Poço da Broca e logo a seguir em Foz d’Égua, dois espaços onde poderíamos ficar o dia todo, pela beleza das ribeiras, da Natureza e de como o homem se adaptou aos locais, dando-lhes o seu toque. Parabéns a Carlos Borges, pelas pontes e casinhas de xisto nas margens da Ribeira de Égua.

Já com a bifana do Paulinho no papo, a passeata continuou agora num sobe e desce retorcido de aldeias edificadas com dificuldade nas encostas do Açor, onde as suas ruas estreitas e quase sempre à sombra nos saudavam com fartura de xisto e camponeses a controlar horários e colocando à prova a atenção dos mototuristas.

Chãs d´Égua, Piódão, o memorial de Miguel Torga e Relva Velha testemunharam a nossa passagem até à agradável frescura da Mata da Margaraça, pequena floresta dominada pelo raro azereiro (prunus lusitânica) e detentora de uma biodiversidade incrível. Sim, há uns séculos, todas estas serras eram cobertas com esta densa e húmida vegetação, resistente a fogos, criadora de fontes de água naturais, habitat de imensa fauna e doadora de saúde mental a rodos. Mas o corte continuado dos carvalhais e árvores nativas sem compensação de reflorestação, a plantação de monoculturas gigantescas e seus inevitáveis fogos mais o abandono das terras e proliferação de espécies invasoras faz com que estas serras incríveis tenham agora um outro ar.

Estávamos a terminar esta etapa de mais de 100 km, na aldeia de Benfeita onde se soube pela primeira vez em Portugal do fim da 2ª Grande Guerra. Desde então, a 7 de maio, a sua torre sineira repica 1620 badaladas, uma por cada dia que o conflito durou.

Foto de grupo, almoçarada, entrega de prémios e agradecimentos, e ala tudo de novo para a estrada rumo à casa de cada um.

O MC Albufeira trouxe tantos e bons motociclistas, que dominaram os pódios deste moto-rali turístico. No sábado foi tudo deles, e no domingo, quase. O Vítor Olivença, a lutar pelo tetra, mostrou-se de novo o mais regular. João e Carla Krull sucederam-se e finalmente aparece alguém de outro clube: em terceiro, a Susana Cardigos, dos Motards do Ocidente.

Mas este evento foi notoriamente daqueles onde todos ganharam, e muito!”

Depois desta 3ª etapa do 25º Troféu Moto-ralis na Serra da Estrela, a competição regressa à região já daqui a duas semanas, com organização dos dinâmicos MK Makinas de Tábua. Pode saber mais detalhes aqui.