A saga da compra
No que respeita ao processo de compra, consigo identificar dois tipos de pessoas: as que demoram o seu tempo a tomar a decisão, que pesquisam, analisam, comparam; e as que demoram menos tempo nesse processo e são mais rápidas a finalizá-lo. Confesso que me encaixo neste último grupo de pessoas. Não tenho muita paciência para muita pesquisa e análise e, após uma ou duas comparações gerais, a decisão fica tomada e avanço para a compra. Claro que já tive más experiências, mas de um modo geral, a coisa não tem corrido mal.
O apaixonado por motos cá de casa é um pouco diferente. Há pouca coisa que ele queira comprar que não envolva um ficheiro Excel, com as várias opções disponíveis, preços, prós e contras de comprar um modelo ou outro, e tudo aquilo que possa ajudar à tomada de decisão. Tudo isto, para ter a certeza que foi a melhor opção. Demore o tempo que demorar! Também não há pressa, não é verdade? Claro que há exceções, mas de um modo geral, é assim que funciona.
Para terem uma ideia, quando comprámos a nossa casa, visitámos três apartamentos. Quando vimos o primeiro, gostámos, e eu disse ao João que devíamos avançar. Contudo, o João não estava muito confortável com o facto de só termos visitado um apartamento e então visitámos mais dois. Resultado? Comprámos o primeiro. E só termos visitado três, foi inédito! Devo dizer que estamos muito satisfeitos com a compra (safei-me bem!). O facto de sermos diferentes no que diz respeito ao tempo que demoramos a comprar algo explica, de certo modo, o pesadelo (é a única palavra que me ocorre) pelo qual eu e os miúdos passámos quando o João decidiu comprar uma moto.
Um dia, em novembro de 2015, o João chega-se ao pé de mim e diz: “Estou a pensar comprar uma moto”. E eu digo: “Ena, boa! Então e qual é?”. Resposta: “Ainda não sei”. “Ainda não sei?”, pensei eu. “Ainda não sei???” Oh não, isto vai demorar! E demorou… desde essa data até abril de 2017 (sim, abril de 2017!) que eu e os miúdos já nem podíamos ouvir falar em motos! 17 longos meses… bateu todos os recordes. Nem mesmo quando tivemos de comprar um carro, que eu pensei que era coisa para meio ano, que o João viu um ou dois modelos, foi ao stand, fez test-drive, tirou umas dúvidas e despachou a coisa em duas semanas! Eu sei que o valor sentimental não é o mesmo, mas comprar um carro em duas semanas, para o João, não é algo normal. Ele não devia estar bem, de certeza. Mas avançou, sem medos, e o carro continua impecável.
Quanto à moto, cá em casa, qualquer smartphone, tablet, computador passava vídeos de motos, as revistas acumulavam-se na casa de banho, as idas aos concessionários, os test drives, a leitura de blogs e um sem número de telefonemas (claro!), a ouvir e partilhar opiniões.
Cada vez que o João chegava de um test-drive, eu e os miúdos fazíamos figas para que fosse desta… mas não era. E voltava tudo ao mesmo. Mais leitura, mais vídeos… e atenção que o apaixonado por motos cá de casa só pode ser um poliglota, pois ele via vídeos em todas as línguas que possam imaginar. Eu chegava à sala e lá estava ele, sentado no sofá, com o telefone na mão, a ver um vídeo em espanhol, inglês, francês, italiano, alemão… confesso que já não suportava aquelas vozes masculinas, ao fim de um dia de trabalho, a ecoar na sala e lá sugeri, carinhosamente (ou talvez não!), que ele passasse a usar auscultadores.
Até que chegou o dia em que, após mais um test-drive, o comentário foi: “Acho que é esta!”. A sério? E foi mesmo! Uma Ducati Multistrada 950, vermelha, linda de morrer! Com top case, para eu me poder encostar à vontade, e com um barulho de motor simplesmente brutal!
Se valeu a pena o tempo de espera? Claro que sim! Só tenho pena de não nos termos livrado dos vídeos, das revistas, dos telefonemas… na realidade, os 17 meses parecem minutos quando comparados com os anos que já se passaram. Diria até que já nos habituámos. Hum… bem, talvez não. Pelo sim, pelo não, é bom que o João continue a usar auscultadores!
Até à próxima e Boas Voltas!
