Crónica João Pais #04

João Pais, Cronista

TPC 

A sigla faz parte daqueles finais de dia na escola em que a tormenta dos cadernos reservava espaço e invadia o remanso do lar.

Trabalho Para Casa.

Quem nunca sofreu às mãos de semelhante algoz?

Pior ainda, ali para os meses de Maio e Junho, quando acabava o ano lectivo e o monstro se agigantava passando a TPF … isso mesmo que recordam, as férias, esse espaço sagrado no calendário, essa invenção divina esventrada por mais do mesmo, sebentas, lápis e borrachas?

Pois é meus senhores, e o que venho hoje fazer é nem mais nem menos que ousar a sugestão de .. reviverem esse tempo e atirarem-se ao trabalho.

Faltam setenta e sete dias para que nos chegue a casa o ronco daqueles monstrinhos que nos deliciam no Mundial de MotoGP, falta essa enormidade de tempo para que possamos preparar uma chávena de café em frente a uma madrugada de sexta-feira que trará a FP1 do GP Qatar.

Tanto tempo, tanto fim-de-semana, e agora??

Pois agora é altura de fazermos nosso trabalho de casa, o nosso TPF, aquilo que bem vistas as coisas o nosso Falcão merece de direito pleno após ter chegado ao grande circo das máquinas de duas rodas voadoras.

E de que falamos?

Pois bem, sabemos que neste nosso canto à beira-mar plantado se torna difícil motivar o Povo para que assista com devoção a algo para além da bola.

Se por um lado é confrangedor assistir a uma cascata de programas televisivos e radiofónicos em torno do tema futebol, esmiuçando até ao enjoo as peripécias mil dos personagens da modalidade, torna-se mais difícil ainda de compreender porque será que com mais e mais desportistas portugueses a chegarem a nível de topo mundial apenas na hora da vitória se lhes reserve meia dúzia de segundos num telejornal, bastas vezes na chegada ao aeroporto que se veste momentaneamente de gente eufórica e agradecida com feito heroico, para logo de seguida o ultimo a sair apagar a luz e no dia seguinte regressar a indiferença com que se presenteiam estes homéricos competidores.

O que se pede então?

Nada de especial.

Apenas que cada um de nós que segue o Miguel Oliveira, cada um daqueles que chega à terça-feira da semana em que há corridas e pensa que só faltam dois dias para a conferência de imprensa de quinta e depois é só mais um bocadinho e lá vem aquele som que acompanha o anúncio da petrolífera que antecede o záspás, aí estão eles no asfalto, e logo logo olha para a parte esquerda do ecrã onde surge a tabela dos tempos .. e busca Oliveira com a mesma avidez com que escutava a campainha para o intervalo das aulas, pede-se apenas e somente que cada um destes cidadãos normais que se torna um maluquinho da coisa MotoGP a cada dia que o calendário semelhante programa lhe oferece, que se multiplique, que saiba buscar em sua família, em seu íntimo grupo de amigos, em sua lista de conhecidos lá da rua, da empresa ou outras fontes de seres humanos com quem conviva nesta terra e lhes mostre a luz, lhes fale deste pedaço de emoção e adrenalina, lhes desfie os feitos de Agostini, Rossi, Marc e Oliveira, e se em Miguel encontrarem alguma dificuldade para lhe enaltecer o dom e a bravura, se para ele  falharem os encómios, pois não esmoreçam, fiquem aliviados e informados que de igual mal padeceram muitos que hoje se sentam e não falham um daqueles dias, muitos que hoje palmilham quilómetros e perdem noites com o fito único de ser Oliveirista.

Ufa, parágrafo longo.

Mas merecedor, espero, de vosso fôlego e atenção, merecedor e suficientemente lúcido para que comecem desde já a elaborar a lista dos eleitos que trarão a este maravilhoso mundo, por ora  apenas vosso e nosso, para que comecem desde já a magicar a estratégia que fará multiplicar por dois, inicialmente, por dez mais tarde e por cem, porque sonhar não custa, o número de amigos, primos, cunhados, sobrinhos, enteados, vizinhos, colegas e outros que tais, a quem poderemos e deveremos lançar o desafio e o convite de se juntarem a esta família que quanto mais crescida for mais .. interessante se tornará.

A patrocinadores.

A canais de televisão.

Às entidades desportivas e… Não menos importante, a uma Comunicação Social generalista que parece refém de certas modalidades que na maior parte das vezes não entregam nem metade, longe disso até, da emoção e da adrenalina que os gloriosos e bravos cavaleiros das duas rodas nos transmitem em cada evento, cada batalha, cada cientificamente conquistado pódio.

Começo pois por ousar falar num ‘mea culpa’… Num ‘nostra culpa’ vá lá, e deixar à vossa consideração a resposta ao apelo que vos faço, no sentido de, como tão bem nos alertou o saudoso Zeca, dar corda aos sapatos (perdoem-me a expressão, mas ilustra bem o alerta) e… ‘avisar a malta’… Que como bem sabemos ‘é o que faz falta’.

Num mundo de velocidades cada vez maiores, seja no asfalto seja no modo de comunicar, deparei-me um dia com um interessantíssimo desafio colocado num grupo do Facebook – Miguel Oliveira e MotoGP Forum Português -desafio esse que inicialmente considerei utópico mas que vou vendo cada vez mais … possível. Por ali se apela a uma multidão de mais de 40 000 seguidores que tornem realidade o cenário de em dia de corrida termos em todos os cantos deste pequeno e enorme País que é Portugal a transmissão da corrida onde Miguel Oliveira se bate com a nata da nata, tornando-se num D’ Artagnan português, num Zorro lusitano, ou num Batman nascido em Almada, um herói mítico para um mundão de gente carente de ídolos assim!

Ora bem, sejamos ambiciosos, saibamos merecer a carreira de um dos nossos que chegou ao restrito grupo de vinte e poucos deuses desse Olimpo de curvas deitadas e punhos rodados a fundo e atiremo-nos unidos a tão arrojada quanto brilhante e merecida aposta:

Vamos lá pôr Portugal a assistir ao MotoGP!