Tempo de Box
Sabemos bem como são as coisas quando chove feio, certo?
Tudo para a box.
Aproveita-se o tempo para analisar o que está bem.
Para troca de impressões.
Resguarda-se a máquina.
Pilotos, mecânicos, todos por ali, esperam.
Que a chuva passe e permita o regresso à vida.
Vida deles, no caso, no asfalto.
Vida nossa, nas bancadas e em infinitos ecrãs de TV ou computador.
Chove feio lá fora, torrencial até.
O vento não quer ficar atrás, se é tempestade ele aí está.
Vento forte este, forte e enraivecido, leva tudo em frente, leva as pesadas bátegas a voar em vez de apenas caírem no solo.
E elas voam e molham tudo em volta.
Está molhado, muito molhado lá fora, ao ponto de começar a ser raro sítio seco pelas ruas.
É hora de estar na box.
Muita moto, por todo o lado anda a cair, quando dantes circulava segura.
Deixemos os pronto-socorro chegar onde são necessários, protegidos que tentam estar de inimaginável intempérie.
Motas mais antigas, preciosidades, tombam inertes.
Não podemos perder assim tanto passado.
Estão indo as nossas motas históricas e nós não quereremos ajudar a empurrá-las estrada fora.
E vão mais novas atrás, estão caindo cada vez mais.
É hora de estar na box, de deixar secar esta invernia galopante que tudo leva.
Já não se trata de corridas.
Ou melhor, talvez trate sim.
Da corrida da nossa vida e, nunca esquecer, da vida que respeitamos nos outros.
Fiquemos na box, trocando impressões entre mecânicos e pilotos.
Sejamos espectador que ajuda na vitória.
Não é hora de ir em corrida aos sobressalentes, de nada eles nos servirão se trouxerem agarrada a imagem de uma velhinha moto que deles precisando e não os havendo se viu acabada.
É tempo de sermos aquela Honda robusta, a Ducati italiana, a Yamaha gentil e generosa, a Aprilia crescente em esperança, a KTM dura de roer e a Suzuki fiável.
Curioso, quando vos digo que pouco de motos sei e acerca delas escrevo, confesso que convosco aprendo este mundo.
E a história repete-se.
De vírus nada percebo também, e convosco, junto convosco, estou certo que aprenderei, aprenderemos, o caminho de saída deste temporal.
Acabará a chuva e talvez com ela tenhamos aprendido a… aprender.
E regressaremos ao asfalto.
Regressaremos sim.