Enquanto muitos fabricantes, e a sociedade em geral, vão adotando novas formas de mobilidade mais amigas do ambiente, e, principalmente, apostando nas motorizações elétricas, alguns fabricantes vão estudando a possibilidade de seguir outro caminho, neste caso com base no hidrogénio. É o caso da Kawasaki Ninja H2 HySE.
Esta concept foi recentemente revelada ao mundo durante o evento “Group Vision 2030” em que o presidente da Kawasaki Motors, Hiroshi Ito, definiu a mais recente estratégia da marca de Akashi e do seu departamento dedicado ao motociclismo tendo em vista uma visão mais amiga do ambiente.
E nessa visão, para além das novas motos híbridas que já aqui lhe mostrámos como são a Z7 Hybrid ou a Ninja 7 HEV, ou ainda as mais recentes motos 100% elétricas, Ninja e-1 e Z e-1, a Kawasaki entende que existe espaço para colocar nas estradas uma moto movida a hidrogénio.
Na verdade, esta Ninja H2 HySE é o resultado inicial dos estudos que a Kawasaki tem vindo a aprofundar em conjunto com as restantes marcas japonesas: Honda, Yamaha e Suzuki. Recordamos que os “Big Four” japoneses anunciaram no primeiro trimestre do ano passado a criação do projeto HySE – Hydrogen Small mobility & Engine technology.
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Assim, e partindo de uma normal Ninja H2 SX, os engenheiros da Kawasaki trabalharam de forma a conseguirem transformar a “sport-tourer” sobrealimentada numa moto capaz de funcionar utilizando hidrogénio como combustível.
O protótipo Ninja H2 HySE foi visto e apresentado no evento em meados de dezembro de 2023. As suas formas são baseadas na moto a combustão, mas adotam uma imagem mais futurista e significativamente mais volumosa. Em particular na secção traseira.
A razão para as formas mais volumosas da traseira é simples: é aí que encontramos as botijas ou cartuchos de armazenamento do hidrogénio!
Embora o hidrogénio tenha quase três vezes mais energia quando comparado com a gasolina, a situação reverte-se quando comparamos o volume que ocupa, mesmo na sua forma líquida, e que requer armazenamento a frio. Por isso, e para garantir uma autonomia decente, os cartuchos ou botijas de hidrogénio têm de ser volumosos, o que resulta numa traseira, no caso da Ninja H2 HySE, de grandes dimensões.
Felizmente estes cartuchos podem facilmente ser trocados, evitando que os motociclistas fiquem encarregues de manusear o sistema de reabastecimento que necessita de pressões extremamente elevadas, numa estação de hidrogénio (este tipo de pontos de abastecimento ainda são muito raros), e por isso a Kawasaki Ninja H2 HySE não tem de esperar muito tempo para regressar à estrada.
Durante a apresentação desta concept a hidrogénio, Hiroshi Ito fez questão de realçar que “No futuro, vamos pesquisar o potencial dos motores a hidrogénio, reunindo membros não apenas do Japão, mas também de todo o mundo, para realizarmos a investigação básica. Estamos orgulhosos por mostrar ao mundo esta moto a hidrogénio. A moto baseia-se na nossa Ninja H2 SX, e no início de 2024 iremos começar com os testes para estudar o seu futuro”.
Estes testes a que se refere o presidente da Kawasaki Motors, e que supostamente vão acontecer após o fim do Rali Dakar onde podemos ver em ação um “side by side” Toyota com este motor a hidrogénio, poderão ditar a viabilidade do projeto.
Se de facto a Ninja H2 HySE passar da fase de concept para protótipo, e depois os testes correrem bem, poderá significar que num futuro a médio prazo – a acreditar no nome do evento em que foi apresentada estaremos a falar em 2030 – poderemos vir a assistir à estreia da versão de produção de uma moto a hidrogénio.
E porque é que a Kawasaki optou por utilizar como ponto de partida a sobrealimentada Ninja H2 SX?
A resposta técnica a esta pergunta pode ser dada com uma só palavra: compressor! O compressor volumétrico que equipa a Ninja H2 SX permite que a Kawasaki consiga “enfiar” muito maior quantidade de oxigénio fresco para o interior do motor quatro cilindros em linha.
Isto porque para atingir a performance desejada, o motor a hidrogénio necessita de consumir maior quantidade de oxigénio do que no caso da gasolina.
Através da sobrealimentação por intermédio do compressor volumétrico, que comprime o ar e o envia para o interior do motor a maiores pressões, a Kawasaki consegue assim responder a um dos problemas de utilizar este tipo de combustível.
Por outro lado, através da tecnologia de injeção direta a pressões elevadas, conseguem colocar o hidrogénio na câmara de combustão.
Refira-se também que a empresa “mãe” da Kawasaki Motors, a Kawasaki Heavy Industries, já tem uma larga experiência nas tecnologias relacionadas com o hidrogénio. Nomeadamente o manuseamento deste tipo de combustível, o seu armazenamento, mas também as diferentes formas de o transportar.
Pese embora a Kawasaki esteja a “desbravar” caminho no que diz respeito a motos a hidrogénio, a verdade é que existem diversos fabricantes que já tentam apostar nesta tecnologia:
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