MotoGP 2022 – Michelin passa ao contra-ataque

Piero Taramasso lança um forte ataque aqueles que se queixaram dos pneus Michelin utilizados no Grande Prémio da Indonésia.

Michelin

O recém disputado Grande Prémio da Indonésia em Mandalika continua a dar que falar. Miguel Oliveira ganhou de forma categórica a corrida encurtada para 20 voltas, e fê-lo à chuva, com a sua KTM RC16 equipada com pneus Michelin próprios para estas condições. Mas são os pneus slick que a marca francesa criou especificamente para este Grande Prémio que continuam a dar que falar.

Ao longo dos dias anteriores ao início do GP, mas também ao longo de todo o fim de semana, alguns pilotos e também responsáveis de equipas atacaram publicamente a Michelin devido a este pneu slick que utiliza uma carcaça já usada em 2017-2018, mas coberta com compostos criados para a temporada MotoGP 2022.

O ataque mais forte e público foi o de Alberto Puig, diretor desportivo da Repsol Honda, que anunciou que ia falar com a Michelin devido ao pneu de Mandalika, dando inclusivamente a entender que o “highside” de Marc Márquez, que deixa o espanhol fora de ação por um período de tempo ainda indeterminado devido ao regresso da diplopia, terá tido como causa o pneu francês. Isso para além dos pilotos Honda nunca terem conseguido replicar em ambiente de GP os tempos obtidos no teste de pré-temporada.

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MichelinAgora que as equipas e pilotos já estão de regresso às suas “bases” e a pensar no Grande Prémio da Argentina, foi a vez da Michelin passar ao contra-ataque.

Piero Taramasso, responsável pela competição de motos do fabricante de pneus, concedeu uma longa entrevista ao website GPOne. Nessa entrevista, e entre vários assuntos, Taramasso mostra-se incrédulo com a forma como Puig e também Pol Espargaró falaram da situação do pneu slick de Mandalika:

“Estou surpreendido, falei com o Puig porque ele não esteve nos testes e expliquei toda a situação, porque é que tomámos esta decisão, tentei dar-lhe todos os elementos que ele se calhar não tinha. Estou surpreendido que apenas ele não tenha entendido a motivação para esta mudança entre o teste e o Grande Prémio”, referindo-se depois a Pol Espargaró: “Alguns pilotos (como Pol Espargaró) acreditavam que os pneus eram de 2018, no sentido que estavam no nosso armazém desde 2018. É preciso muita imaginação para pensar isso, estes pneus foram fabricados após os testes”, conclui Taramasso.

A Michelin já realizou diversas análises à queda de Marc Márquez no Warm Up de domingo. A conclusão é que os pneus não foram a causa que levou ao “highside” violento sofrido pelo piloto espanhol. Aliás, esta conclusão técnica da Michelin vai ao encontro da opinião de Jorge Lorenzo.

O antigo piloto da Repsol Honda, com passagens também pela Yamaha e Ducati em MotoGP, abordou o acidente de Márquez em Mandalika e mostrou-se contrário à questão do pneu ser responsável pela queda. Para Lorenzo, cinco vezes campeão do mundo e também ele várias vezes vítima da ferocidade da Honda RC213V, o problema está mesmo na conceção do protótipo japonês, que pelas suas características sempre se mostrou particularmente propício a provocar “highsides” com consequências graves para os seus pilotos.

O responsável da Michelin para MotoGP confirma que a corrida não foi encurtada na sua distância (de 27 voltas passou a 20 voltas) devido aos pneus, mas sim devido às condições do asfalto de Mandalika, que, recordamos, nas corridas de Moto3 e Moto2, e já no seguimento dos dias de treinos, apresentava grande degradação da sua superfície com alguns pilotos a queixarem-se que faltavam bocados inteiros de asfalto.

Piero Taramasso divulga inclusivamente detalhes técnicos que, segundo a Michelin, confirmam a necessidade da utilização deste pneu slick especial no Grande Prémio da Indonésia.

O responsável da marca francesa refere que “Sim, colocamos a segurança sempre em primeiro lugar, mesmo em relação à performance. Os pneus dos testes não teriam aguentado a corrida de 27 voltas porque as temperaturas eram muito elevadas. A única solução técnica seria usar a carcaça que já tínhamos usado em 2017 e 2018, em conjunto com os compostos usados nos testes, de forma a não mudar tudo. Estes pneus eram capazes de diminuir a temperatura em 15 a 20 graus Celsius!”, um valor impressionante de redução da temperatura do pneu slick tendo em conta que o asfalto de Mandalika chegou aos 60 graus Celsius, o que teria destruído por completo o pneu normal da Michelin.

A grande questão que se coloca agora é: este pneu de Mandalika vai ser usado novamente?

A reposta de Piero Taramasso é bastante clara, referindo que o GP da Indonésia foi “uma situação excecional”, apontado às elevadas velocidades em curva, ao novo asfalto e às temperaturas altas. Para outros Grandes Prémios que também exigem mais dos pneus slick de MotoGP, como Tailândia ou Áustria, a Michelin vai criar um pneu que ficará a meio caminho entre o pneu de Mandalika e o pneu normal. Taramasso define este pneu como sendo um slick “reforçado”.

O responsável máximo da Michelin para MotoGP faz ainda questão de referir que “Isto são corridas!”. Taramasso aponta o dedo neste caso específico à Repsol Honda, pois num ambiente de enorme competitividade e desafios técnicos que obrigaram à modificação das afinações das motos, novos parâmetros de eletrónica e novas afinações de suspensões, “Aqueles que se adaptaram melhor e mais rapidamente estiveram na frente, e aqueles que tiveram mais dificuldade ficaram atrás”.

Esta é apenas mais uma polémica que vem “apimentar” ainda mais uma temporada de MotoGP que está ao rubro! Recordamos que a Comissão de Grandes Prémios decidiu banir os dispositivos de ajuste da altura da dianteira das MotoGP em andamento. Uma decisão que certamente não terá caído bem no seio da Ducati Corse.