Pode dizer-se que a festa foi austríaca no final deste Dakar: não só a KTM permanece invicta desde 2001, como Matthias Walkner é o primeiro piloto austríaco a vencer a mítica prova.
A última especial desta 40.ª edição do Dakar foi relativamente curta – 166 km de ligação e 120 km de especial – já não trouxe alterações ao topo da classificação geral.
Matthias Walkner tinha cerca de 20 minutos de vantagem e tinha apenas gerir essa diferença para arrecadar a sua primeira vitória Dakariana, e por isso foi apenas 8.º nesta última etapa, garantindo a vitória à geral com quase 17 minutos de vantagem.
Apesar de tudo, os seus adversários não baixaram os braços, pois todos sabem que tudo pode acontecer e há que estar no sítio no certo para aproveitar os erros dos outros.
Foi o argentino Kevin Benavides quem averbou a vitória, a sua primeira numa etapa do Dakar: «Sinto-me espectacular. Esta sensação para mim é incrível. Vencer é o meu sonho, e toquei-o um pouco. Temos que continuar a puxar e a puxar para o próximo ano. Agora sei que o posso fazer, por isso vou continuar a preparar-me e a tentá-lo», disse Benavides no final da etapa.
Naturalmente, também Matthias Walkner estava nas núvens,mas consciente de que beneficiou do azar alheio: «É mesmo, mesmo espectacular. Nunca pensei que pudesse vencer. O objectivo era terminar no pódio, mas este ano foi tão renhido, e o 10.º dia foi a chave. Talvez a sorte tenha estado do meu lado desta vez, mas é verdadeiramente um sonho tornado realidade. Foi um Dakar louco. O nível de pilotagem está tão alto. Havia cinco outros pilotos que podiam ter ganho, mas parece que fui eu o sortudo. Tive certamente um pouco de sorte. Eu penso que no Dakar precisamos de um pouco de sorte, mas às vezes temos, e otras vezes não. Dersta vez estava do meu lado. Em 2016, depois da minha lesão, muitas coisas mudaram para mim. É tão bom estar de volta aqui», disse um emocionado Walkner no cenário final em Córdoba.
Kevin Benavides e Toby Price completaram o pódio do 40.º Dakar, que registou a 17.ª vitória consecutiva da KTM.
Foi um Dakar duro, em que alguns dos principais protagonistas ficaram pelo caminho: Sam Sunderland, Joan Barreda, Adrien van Beveren, por exemplo, ganharam etapas, lideraram a prova, mas não conseguiram chegar ao final.
Já para não falar do contigente português, que para além bem mais pequeno que o do ano passado, ficou reduzido a apenas Fausto Mota, depois do abandono prematuro de Hélder Rodrigues (operado semanas antes da partida), Paulo Gonçalves (lesionado num acidente quando treinava), e Mário Patrão (com uma apendicite dias antes de viajar para o Peru) e de Joaquim Rodrigues (que abandonou logo na primeira etapa em consequência de um acidente).
Fausto Mota acabou assim por ficar sozinho a defender as cores nacionais, e fê-lo com grande determinação, chegando ao final na 43.ª posição da classificação geral, ficando para a história como o único piloto português a participar de moto no 40.º Dakar.
Classificação final
1. Matthias Walkner: «É inacreditável, não consigo descrever a sensação. O Dakar deste ano foi tão difícil, foi o mais duro da minha carreira. A navegação foi complicada todos os dias. No início da corrida, todos os da frente estavam tão próximos, com diferenças mínimas. Tentei apenas continuar e ser bom todos os dias sem cometer erros. As coisas estavam muito apertadas até ao dia que consegui vencer a etapa. Depois disso tentei terminar todos os dias em segurança para chegar ao final da prova sem perder a minha vantagem. Felizmente a táctica funcionou e aqui estou eu no final como vencedor, parece irreal. Obrigado à minha equipa e a tos os que me apoiaram. Conseguimos!»
2. Kevin Benavides: «Foi um grande Dakar. Estou realmente contente e sinto-me muito bem. Tivemos sempre uma grande estratégia. Estivemos sempre no pódio e chegámos mesmo, a dada altura, a liderar a corrida. É uma pena o que aconteceu na 10.ª etapa, mas temos que olhar para a frente. Terminámos em 2.º da geral, o que sabíamos ser capazes de fazer.»
3. Toby Price: «A última etapa acabou e correu muito bem. Estou contente por ter chegado ao final, esse foi sempre o objectivo desde o início. Tentei puxar hoje para recuperar tempo para o Kevin Benavides, mas a meio da etapa percebi que cinco minutos era muito tempo, e por isso apontei para um final seguro. Terminar o Dakar é um feito por si só, conseguir um pódio na edição deste ano é inacreditável, especialmente depois do ano que passei. A equipa conseguiu e depois de termos trabalhado tanto, nenhum de nós teria passado sem os outros. Vou concentrar-me na temporada de 2018 para tentar ficar mais forte e regressar no próximo ano em busca do degrau mais alto.»
4. Antoine Meo: «Estou tão contente por ter terminado a corrida inteiro. Hoje foi difícil, não por cauda da distância da especial, mas porque tivemos que esperar um pouco e foi difícil manter a concentração. Tentei puxar no início, mas depois de cometer um pequeno erro, apanhei um camião numa parte esquisita da pista e fiquei bloqueado atrás dele. Sofri algumas quedas este ano, mas nada de mais. Estou contente com o modo como as coisas correram e quero agradecer à equipa por nos ajudar a chegar ao fim.»
Todas as classificações aqui.